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Recordações de uma “crioulização cénica” de Molière

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Foi há 22 anos que Zenaida Alfama interpretou a esposa do “Médico à Força”, de Molière, uma personagem do século XVII transformada numa mulher cabo-verdiana do século XXI. A peça foi encenada por João Branco e levada a palco pelo Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, na ilha de São Vicente. “Médico à Força” foi a primeira “crioulização cénica” de Molière em Cabo Verde, a que se seguiria também “Escola de Mulheres”.

Zenaida Alfama. Centro Cultural Português do Mindelo, ilha de são Vicente, Cabo Verde. 21 de Março de 2022.
Zenaida Alfama. Centro Cultural Português do Mindelo, ilha de são Vicente, Cabo Verde. 21 de Março de 2022. © Carina Branco/RFI
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Foi no ano 2000 que Zenaida Alfama transformou Martine, uma personagem do século XVII, numa mulher cabo-verdiana do século XXI. “A forma de estar, a forma de vestir com o meu figurino quase tipicamente cabo-verdiano, a forma de ver as coisas e o relacionamento entre a mulher e o médico que era bem cabo-verdiano, digamos assim”, descreve a actriz do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo.

A peça é uma comédia mas começa com uma cena de violência doméstica, um tema intemporal. “Sim, começa com uma cena de violência doméstica, mas depois a mulher vai-se vingar do marido por causa da violência”, recorda.

A peça de Molière, que era pela primeira vez apresentada em Cabo Verde, foi bem acolhida pelo público e contou com uma nova geração de actores. “O feedback foi bom (...) Estávamos numa época em que o teatro estava a explodir porque estávamos com actores novos, que estavam a sair do curso de teatro do Centro Cultural Português e que estavam com uma grande entrega.”

O dramaturgo francês era assim alvo de uma “crioulização cénica”, uma metodologia teorizada pelo encenador João Branco e personificada pelo Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo. No fundo, tratava-se de apropriar-se do texto, traduzi-lo para crioulo e adaptá-lo aos costumes e à sociedade mindelense.

O nosso encenador sempre foi um pouco atrevido nos textos que escolhe para fazer adaptação. São coisas que são apresentadas pela primeira vez em Cabo Verde e ele sempre teve a ousadia de ir mais além”, acrescenta Zenaida Alfama.

No grupo há esse espírito de ver ou de pensar: ‘Se fosse aqui no Mindelo (que é no sítio onde nós vivemos) como é que seria, como é que as pessoas iriam agir?’ Para que o público ao ver o espectáculo de Molière se pudesse identificar como se fosse algo de cá do Mindelo.”

Por que é que Molière ainda faz rir e pensar nos dias de hoje? Para Zenaida Alfama é simplesmente porque se trata “de um clássico” e “é fácil colocá-lo num tempo presente”, assim como as críticas sociais que o texto comporta.

Oiça aqui a entrevista a Zenaida Alfama.

08:45

As memórias de Molière de Zenaida Alfama

Além de “Médico à Força” de Molière, no ano 2000, o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo também “crioulizou”, mais tarde, a peça “Escola de Mulheres”. Na nossa página pode encontrar e ouvir as entrevistas que fizemos também ao encenador e aos actores Rank Gonçalves, Janaína Alves e Fidélia Fonseca.

Elenco de "Médico à Força", de Molière, encenado por João Branco e levado ao palco pelo Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo.
Elenco de "Médico à Força", de Molière, encenado por João Branco e levado ao palco pelo Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo. © Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo

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