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África/Polio/OMS

OMS declara oficialmente erradicação da poliomielite em África

A Organização Mundial de Saúde - OMS - certificou esta terça-feira, 25 de Agosto, o fim da transmissão do poliovírus selvagem em África, o vírus que provoca a poliomielite ou paralísia infantil, quatro anos depois do registo dos últimos casos ocorridos no nordeste da  Nigéria, uma região devastada pelos ataques dos jihadistas de Boko Haram, o que foi considerado "um exemplo do poder da solidariedade" pela directora regional da OMS para África, Matshidiso Moeti.

Criança sendo vacinada contra a poliomielite, ou paralísia infantil, doença declarada oficialmente erradicada em África pela OMS a 25 de Agosto de 2020.
Criança sendo vacinada contra a poliomielite, ou paralísia infantil, doença declarada oficialmente erradicada em África pela OMS a 25 de Agosto de 2020. Marko Kokic/ IFRC
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Em cerimónia transmitida virtualmente, devido à pandemia da Covid-19, durante a reunião virtual da 70.ª sessão do comité regional da OMS para a África ocorrida a 25 de Agosto em Genebra, na Suiça, os membros da Comissão Regional para a Certificação da Erradicação da Poliomielite apresentaram o certificado de erradicação da doença, nos 47 países africanos membros da organização.

O anúncio oficial, foi feito por videoconferência, entre o director-geral da OMS Tedros Adhanom Ghebreyesus, a directora da organização para a África, Matshidiso Moeti, bem como os bilionários filantropos Aliko Dangote e Bill Gates, entre outros.

Matshidiso Moeti, disse na ocasião que este é "um exemplo do poder da solidariedade" mas advertiu que "a batalha ainda não terminou".

"Graças aos esforços mobilizados por governos, profissionais de saúde e comunidades, mais de 1,8 milhões de crianças foram salvas desta doença", quando há apenas uma década, a poliomielite paralisava 75.000 crianças por ano, segundo a OMS.

Por seu lado, o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que este é "um dia de celebração e esperança...um sucesso histórico que só foi possível devido ao poder da parceria".

O fim dos casos de “pólio” em África é uma etapa crucial na erradicação mundial desta doença.

Provocada pelo "poliovírus selvagem" - PVS - a poliomielite é uma doença infecciosa aguda e contagiosa, transmitida por via digestiva, que afecta principalmente as crianças, atacando a medula espinal, podendo provocar uma paralisia irreversível.

A vacina eficaz e injectável e depois na sua forma oral surgiu nos anos 1950 e os países ricos rapidamente erradicaram a doença, mas Ásia e África permaneciam regiões endémicas.

Em 1988, a OMS contabilizou 350.000 casos em todo o mundo e em 1996 mais de 70.000 só no continente africano.

Mas graças a uma campanha colectiva e a grandes esforços financeiros, com 19 mil milhões de dólares angariados em 30 anos, apenas dois países do mundo apresentam actualmente casos de "poliovírus selvagem": o Afeganistão, com 29 casos em 2020, e Paquistão, com 58 casos.

Nigéria

A Nigéria foi o último país a errradicar a poliomielite em África, no início dos anos 2000, era considerada um epicentro da doença, mas os últimos casos foram registados em 2016 no Estado de Borno, no nordeste do país, uma região devastada pelos conflitos contra os jihadistas de Boko Haram.

O Presidente Muhammadu Buhari, afirmou que a sua erradicação é de grande importância, "não só para os nigerianos, mas para todos os africanos".

Na região norte do país africano, de maioria muçulmana, a pressão de grupos salafistas interrompeu as campanhas de vacinação contra a pólio entre 2003 e 2004.

Rumores afirmavam que a vacina era um instrumento de um grande "complot" internacional para esterilizar os muçulmanos e as autoridades fizeram um forte trabalho de conscientização com os líderes tradicionais e religiosos, para convencer a população a vacinar os filhos.

Mas o conflito com o grupo extremista Boko Haram, em 2009, acabou com as esperanças de erradicar a doença na década passada.

Em 2016 foram detectados quatro novos casos de poliomielite no estado de Borno, no nordeste do país, foco da insurreição jihadista e carca de 400.000 crianças ficaram à margem das campanhas médicas, devido à violência.

A segurança continua muito volátil no nordeste da Nigéria, onde o Boko Haram e o Estado Islâmico da África Ocidental - ISWAP - controlam grandes áreas, principalmente em torno do Lago Chade.

Nas áreas "parcialmente acessíveis", as campanhas de vacinação foram organizadas com a protecção do exército e de milícias de autodefesa, explicou o médico Musa Idowu Audu, coordenador da OMS no Estado de Borno.

Nas zonas totalmente controladas pelos jihadistas, a OMS e seus sócios estabeleceram contactos com a população nas estradas ou nos mercados, para formar uma rede de "informantes de saúde" e "sentinelas" que alertavam sobre casos.

Quase 20 profissionais de saúde e voluntários morreram nos últimos anos no nordeste da Nigéria nesta campanha, recorda o doutor Audu.

Actualmente, cerca de 30.000 crianças nigerianas não estão vacinadas, um número "muito baixo" para que aconteça uma transmissão epidémica, de acordo com os especialistas.

 

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