Argélia encerrou espaço aéreo aos aviões marroquinos

A Argélia decidiu encerrar na quarta-feira 22 de Setembro o espaço aéreo a todos os voos comerciais e militares marroquinos, informou a Presidência argelina.

Avião da companhia aérea marroquina Royal Air Maroc. Imagem de Ilustração. © PASCAL PAVANI / AFP

A decisão foi anunciada após a reunião do Alto Conselho de Segurança da Argélia que contou com a presença do Presidente Abdelmadjid Tebboune.

O comunicado no fim dessa reunião afirma que este encerramento do espaço aéreo é devido às contínuas provocações de Marrocos.

Recorde-se que esta decisão acabou por surgir no seguimento de outra expressão de mal-estar em Agosto. A Argélia cortou as suas relações diplomáticas com Marrocos a 24 de Agosto.

A tensão entre os dois países não é recente. Aliás, Rabat tinha cortado as relações diplomáticas a 7 de Março de 1976 com os argelinos.

Em entrevista à RFI, Rui Neumann, jornalista radicado em França e especialista em assuntos africanos, considerou que “está aqui um crescendo nas tensões diplomáticas porque esta decisão surge após a ruptura de relações diplomáticas entre Argélia e Marrocos. Neste caso uma ruptura da parte da Argélia com Marrocos, isto porque Rabat já tinha tomado essa decisão em 1976 por causa do Saara Ocidental. Mas há aqui um conjunto de elementos que leva a esta ruptura”, começou por afirmar.

O jornalista passou depois a enumerar os diferentes problemas entre as duas nações: “Não podemos esquecer que a Argélia apoia firmemente a causa palestiniana, enquanto Marrocos normalizou as relações diplomáticas com Israel. Há também os Estados Unidos que reconheceram a soberania marroquina sobre o Saara Ocidental, quando a Argélia é o país que apoia em força a República Árabe Saaraui Democrática assim como a Frente Polisário”, acrescentou Rui Neumann.

O especialista em assuntos africanos também falou do ‘timing’ deste anúncio, durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas: “Tudo isto acontece quando está a decorrer a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Ou seja, esta tensão diplomática obviamente terá um eco durante a Assembleia Geral. E aqui a Argélia pretende marcar um ponto diplomático, em que a ONU seja forçada a re-analisar de novo a questão do Saara Ocidental e tentar resolver o problema entre Marrocos e a Frente Polisário”, frisou.

Rui Neumann concluiu admitindo que deverá haver ainda mais desenvolvimentos e mais actos entre os dois países: “Muitas vezes de uma tensão diplomática exagerada, é porque se prepara na antecâmara uma resolução imediata com o mesmo efeito espectacular diplomaticamente falante nas relações”, concluiu.

02:59

Rui Neumann, especialista em assuntos africanos 23-09-2021