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Turquia

Autoridades da Turquia efectuam vasta operação contra militantes curdos

Pelo menos 110 pessoas foram detidas hoje em 21 províncias do país, no âmbito de uma vasta operação policial "anti-terrorista" visando o partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), a cerca de 3 semanas das eleições presidenciais de 14 de Maio na Turquia. Esta operação denunciada como sendo uma "tentativa de intimidação", é considerada inédita pela sua amplitude.

apoiantes do partido pro-curdo HDP em Istambul no dia de Noruz, ano novo, a 19 de Março de 2023.
apoiantes do partido pro-curdo HDP em Istambul no dia de Noruz, ano novo, a 19 de Março de 2023. AP - Francisco Seco
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A Associação da Ordem dos Advogados da Turquia estima que "o número total de detenções poderia ascender a 150", incluindo pelo menos "uns vinte advogados, cinco jornalistas, três actores de teatro e um político". A polícia confirmou 110 detenções, o canal de televisão privado NTV, 126. Os advogados foram proibidos de entrar em contacto com os seus clientes durante 24 horas, esclareceu ainda a Ordem dos Advogados.

Estas detenções, a cerca de 3 semanas das presidenciais de 14 de Maio em que Erdogan, no poder há duas décadas, pretende obter um novo mandato, não têm deixado de suscitar reacções. Decorreram nomeadamente protestos nas ruas de Diyarbakir, no sudeste do país, um dos pontos onde se deram as detenções. O presidente da Associação da Ordem dos Advogados de Diyarbakir, Nahit Eren, denunciou em comunicado "uma tentativa de intimidação dos eleitores curdos".

De acordo com o canal televisivo público TRT, os detidos são suspeitos de terem financiado o PKK, classificado por Ancara como organização terrorista.

Esta situação não surpreende Dejanirah Couto, especialista do Médio Oriente e investigadora da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris."Era completamente previsível por uma razão muito simples: os curdos têm estado a pesar na balança eleitoral. A presença dos curdos era um pouco indesejável em matéria de coligação. Os partidos da oposição juntaram-se todos na perspectiva das eleições, mas eles tentaram de algum modo manter os curdos um pouco afastados. Mas os curdos, sobretudo o principal partido curdo, começaram a fazer algumas declarações colaterais a dizer que realmente, cedo ou tarde, o governo e a oposição iam ter que contar com eles", começa por dizer a estudiosa referindo acreditar que foi "no seguimento destas declarações que o governo terá decidido fazer esta vaga de detenções para prevenir uma maior visibilidade e uma maior comunicação dos partidos curdos antes mesmo das eleições."

Do ponto de vista da historiadora, outra problemática poderá ter pesado na balança: o terramoto que no passado mês de Fevereiro, causou dezenas de milhares de mortos na Síria e sobretudo na Turquia, uma tragédia bem presente em todos os espíritos. "Como as zonas vítimas do grande tremor de terra se situavam em terras praticamente curdas, o governo terá sentido que a possibilidade de os partidos curdos se encarregarem de trazer toda uma série de protestos da população das zonas atingidas pelo terramoto ainda era maior" considera a universitária.

Refira-se que as eleições presidenciais e legislativas a serem organizadas no próximo mês, vão determinar se o Presidente Recep Tayyip Erdogan e do seu partido AKP se mantêm no poder. Eleito inicialmente com a imagem de "líder moderado", Erdogan veio progressivamente a instaurar um poder eminentemente conservador senão mesmo autoritário na óptica dos seus detractores. Em 2016, uma tentativa de desestabilização deu azo a uma purga no exército e em vários outros sectores da vida política e social do país.

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