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Atletismo

Auriol Dongmo: «É necessário maior apoio para as lançadoras no atletismo»

Estamos a pouco mais de um ano do início dos Jogos Olímpicos em Paris em 2024, e vários são os atletas que estão a tentar alcançar os mínimos para as Olimpíadas, nas provas individuais, ou até que estão na fase de apuramento, no que diz respeito às modalidades colectivas.

Auriol Dongmo, atleta portuguesa.
Auriol Dongmo, atleta portuguesa. © AFP - ANDREJ ISAKOVIC
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No atletismo, os atletas ainda têm uma época pela frente, a de 2023, antes de pensar plenamente nos Jogos Olímpicos de 2024.

A Liga Diamante, edição 2023, está em curso. Treze ‘meetings’, competições, em 13 cidades diferentes.

Cada ‘meeting’ tem cerca de 15 provas entre as masculinas e as femininas. Cinco cidades já foram visitadas: Doha no Catar, Rabat em Marrocos, Florença na Itália, Paris em França e Oslo na Noruega.

Depois dos treze ‘meetings’, que servem de qualificações, vão decorrer as finais em Eugene, nos Estados Unidos, entre 16 e 17 de Setembro.

Nesta edição de 2023 da Liga Diamante, dois atletas portugueses já venceram provas: o campeão olímpico de triplo salto, Pedro Pablo Pichardo, venceu em Doha no Catar, enquanto a atleta Auriol Dongmo venceu duas vezes na prova de lançamento do peso em Rabat, em Marrocos, e em Paris, em França.

Com esses dois triunfos e um quinto lugar em Oslo, na Noruega, Auriol Dongmo lidera a classificação do lançamento do peso feminino com 20 pontos, mais sete do que a norte-americana Maggie Ewen.

De notar que o próximo ‘Meeting’ decorre a 30 de Junho em Lausana na Suíça.

 

Auriol Dongmo, atleta portuguesa.
Auriol Dongmo, atleta portuguesa. © AFP - SERGEI GAPON

 

A RFI falou com Auriol Dongmo em Paris, após a vitória na prova parisiense, com um lançamento que atingiu os 19 metros e 72 centímetros.

Auriol Dongmo, atleta luso-camaronesa que, com a camisola de Portugal, venceu os Europeus de pista coberta em Toruń na Polónia em 2021 e em Istambul na Turquia em 2023, e também arrecadou o título de Campeã do Mundo de pista coberta em Belgrado na Sérvia em 2022.

Nos Jogos Olímpicos em Tóquio, que decorreram em 2021, Auriol Dongmo ficou perto do pódio, terminando no quarto lugar.

 

Lançamento do Peso. Imagem de Ilustração.
Lançamento do Peso. Imagem de Ilustração. © AFP - BEN STANSALL

 

Em entrevista exclusiva, Auriol Dongmo mostrou-se satisfeita com os triunfos alcançados e abordou os objectivos para esta temporada que passam sobretudo pelos Mundiais isto antes de pensar nos Jogos Olímpicos em Paris em 2024.

RFI: Como foi essa vitória em Paris?

Auriol Dongmo: Correu muito bem. Fiz um excelente concurso, mesmo se no início estava um bocado difícil. Depois, graças a Deus, consegui subir e responder.

RFI: O que foi complicado neste ‘Meeting’?

Auriol Dongmo: Nunca tinha vindo a Charléty, mas acho que no início, tecnicamente, não estava a funcionar e estava um pouco tensa. Eu até tinha feito um bom aquecimento. E depois fiquei em frente à parede, ou conseguia um bom resultado ou então não entrava na final, nas três últimas atletas a competir. Então fiquei muito focada, e consegui um bom lançamento, subindo rapidamente na tabela.

RFI: Fez os dois melhores lançamentos do concurso do peso… O que isso significa?

Auriol Dongmo: Dá-me mais força para continuar a trabalhar. Eu acho que até agora ainda não consegui atingir o meu nível. Mas cada coisa em seu tempo. Hoje eu fiz um excelente concurso. Para mim está tudo bem.

RFI: Quais são os objectivos para esta temporada?

Auriol Dongmo: O objectivo é claramente o campeonato do mundo. Quero lançar o mais longe possível para simplesmente ganhar a prova.

RFI: Os 20 metros estão na cabeça?

Auriol Dongmo: Sim claro porque no campeonato do mundo, por exemplo, tem que lançar a mais de 20 metros para ganhar. O problema não é eu não conseguir enviar o peso até aos 20 metros, eu acredito é que os 20 metros vão sair na altura certa, é porque ainda não é a altura certa. Eu não tenho dúvida nenhuma.

RFI: Mas tem tentado?

Auriol Dongmo: Sim claro que tento. Depois dos 19,72 metros, ainda tentei puxar mais, porque eu sei o que valho. Tentei puxar mais, mas não consegui. Para a próxima prova espero que possa sair. Eu só sei, é que vai sair no momento certo.

RFI: Duas provas, duas vitórias, o que isto representa?

Auriol Dongmo: É espectacular. Até agora as coisas estão a correr bem.

RFI: Estava à espera deste início de temporada?

Auriol Dongmo: Eu apenas posso controlar o que faço. Não posso controlar as outras atletas. A minha responsabilidade é enviar o peso o mais longe possível, é tudo. E claro quero sempre ganhar, mas apenas posso controlar o que faço.

RFI: Mudou alguma coisa para esta época?

Auriol Dongmo: Tecnicamente não funciona sempre e temos de continuar a trabalhar. Tenho que trabalhar sempre a técnica, porque para mim não é só força. Uma boa técnica, mais força, mais uma boa velocidade, é o segredo para ir longe. Vamos continuar a trabalhar neste sentido. Grandes mudanças nunca, pequenas mudanças sim porque é necessário.

RFI: Já esqueceu os Jogos Olímpicos de Tóquio?

Auriol Dongmo: Já estão esquecidos. O que é passado, é passado, não se olha mais para isso, agora é olhar para o presente e para o futuro.

RFI: E os JO de Paris-2024, já estão na mente?

Auriol Dongmo: Claro que já estão bem presentes. Agora tenho de continuar a trabalhar para chegar lá. Estar, já, aqui em Paris claro que dá algumas ideias. Os Jogos Olímpicos são a maior competição, é sempre um sonho.

RFI: Na Liga Diamante, as provas femininas de lançamento, quer do peso e do disco, começam bem antes das provas em ‘Prime Time’, sente que há uma certa desvalorização?

Auriol Dongmo: Eu sempre me queixei disso. O lançamento do peso não é muito valorizado porque na altura da prova, não há muitos espectadores, nem muitos jornalistas. Para mim isso não é justo para a nossa modalidade. Mas há coisas neste mundo que não podemos controlar. Se as instâncias superiores não conseguem fazer nada, não somos nós que vamos conseguir alcançar alguma coisa. O lançamento do peso tem de ser mais valorizado, mais divulgado, porque nós também somos atletas e fazemos a mesma coisa que os outros. Temos que valorizar todos os atletas, inclusive nós os lançadores. É por isso que mesmo em termos de patrocinadores, nós não temos muitos, nem conseguimos ter muitos, porque a Federação Internacional não nos valoriza, nós os lançadores.

RFI: É complicado financeiramente ser uma atleta? Ser lançadora?

Auriol Dongmo: É sempre complicado. Se és campeão do mundo ou és n°1 do mundo, isso não te dá nem dinheiro para comprar uma casa. Enquanto um jogador de futebol da quarta ou da terceira liga, podem ganhar em um mês o que tu talvez nunca vais ganhar na tua carreira inteira. Não é justo, mas este assunto, nem sei se vale a pena falar porque não sei se vai mudar um dia.

RFI: Se for campeã olímpica, a situação pode mudar?

Auriol Dongmo: Eu não acho que vai mudar qualquer coisa. Vai apenas mudar o facto de recompensar o meu trabalho. Eu ganhar uma medalha, isso permite-me ver o fruto do meu trabalho. Mas em termos financeiros, não deve mudar muito. Esse tipo de situações, para um campeão olímpico, por exemplo, não é justo, é mesmo injusto.

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Auriol Dongmo, atleta portuguesa 16-06-2023

Auriol Dongmo, atleta portuguesa.
Auriol Dongmo, atleta portuguesa. © AFP - OZAN KOSE

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