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Situação no Burkina Faso continua a evoluir depois do golpe de Estado

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O Burkina Faso que conheceu segundo golpe de Estado, em menos de um ano, no passado fim de semana sob a batuta do capitão Ibrahim Traoré, vive ainda na incerteza. Tanto mais que a vinda, na terça-feira, de uma missão da CEDEAO, a comunidade regional, actualmente presidida pela Guiné Bissau tinha exaltado os ânimos.

Um sinal anti-França retido durante uma manifestação após o golpe de Estado de Janeiro de 2022 que pôs fim à presidência de Roch Marc Christian Kaboré.
Um sinal anti-França retido durante uma manifestação após o golpe de Estado de Janeiro de 2022 que pôs fim à presidência de Roch Marc Christian Kaboré. © OLYMPIA DE MAISMONT / AFP
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A missão da Comunidade Económica dos Estados da África Occidental acabou por limitar a sua deslocação ao aeroporto da capital. É precisamente a partir de Uagadugu que se junta a nós, a embaixadora brasileira, Ellen de Barros que começa por nos descrever a situação actual no país.

RFI: Qual é a situação no Burkina Faso ?

Ellen de Barros : A quarta-feira amanheceu a cidade normal. As crianças voltaram às aulas, já a partir de segunda-feira e todo o comercia a cidade tem muitas lojas do comércio, é muito informal. Está todo o mundo na rua, nas calçadas e voltou sem nenhum distúrbio. Teve um início de protesto, mas foi em relação a missão da CEDEAO, que veio em Uagadugu para uma primeira conversa frente a frente com o Capitão Ibrahim Traoré. As conversas aparentemente correram muito bem, mas eles não puderam nem sair do aeroporto.

Ouve descontentamentos em relação a CEDEAO, à missão, que veio da população?

Sim a missão foi percebida, houve receio, das pessoas que estavam protestando de que CEDEAO, fosse novamente, decretar sanções contra o Burkina, tomar uma posição muito forte em relação a esse segundo golpe. E então as pessoas que estão apoiando esse movimento MPSR.

Eles chamam 2, em alusão ao MPSR 1 que foi o movimento do ex-presidente, do presidente deposto, Paul-Henri Sandaogo Damiba. Então não queriam que a CEDEAO exercesse pressão no sentido contrário.

Há possibilidade de novas sanções contra o Burkina Faso?

É, eu entendo que está tudo ainda em negociação, mas uma grande possibilidade de que não haja é que o é o governo que está assumindo agora a direção do país mantenha o calendário já acordado pelo governo anterior. São todos, aparentemente, do mesmo movimento, então aparentemente isso seria algo favorável, se for mantido, o calendário, e se forem mantidas em todos os pontos acordados com o governo anterior, eu acho que isso seria favorável. Mas eu entendo que as negociações estão se desenrolando e aqui a com missão da CEDEAO, que esteve aqui, uma comissão de alto nível, foi chefiada pelo ex-presidente do Niger, que é o mediador entre a CEDEAO e o Burkina Faso.

Vai haver a devolução do poder em julho de 2024?

Foi o acordado que as primeiras eleições democráticas se dariam logo no em primeiro de julho de 2024. Mas essa missão da CEDEAO agora vai reportar ao comitê, mesmo dos chefes de estados que compõem a ceder e imagino que a  CEDEAO deve convocar alguma reunião extraordinária ou de alguma maneira deliberar sobre esse assunto.

Em Uagadugu a situação em torno de Ibrahim Traoré, que diz que não quer continuar com o poder,  mas há alguma hipótese que ele não vai querer devolver o poder?

Não, eu tenho impressão de que o que se comenta aqui é que ele não tem disposição de exercer poder político. A preocupação dele é com a vertente militar, com a luta contra o terrorismo, que diariamente está avançando e fazendo muitas vítimas, sobretudo na população civil, nas mulheres e nas crianças. Eles enviou suprimentos (material, comida..) na cidade de Djibo que fica no norte, que está cercada desde fevereiro pelo grupo do JNIM. Já houve crianças que morreram de fome lá porque a cidade está sitiada.

Ibrahim Traoré vai tentar libertar a cidade?

Imagino que sim. Para isso é preciso fazer toda uma preparação. Então é a minha impressão, é de que a preocupação deles é com essa parte militar propriamente dita, que no entendimento deles não estava sendo a prioridade do governo anterior e que o poder seria passado para um civil, que efetuaria a transição da mesma maneira que aconteceu em 2014-2015. Quando houve as revoltas populares que acabaram derrubando o então presidente Compaoré. Mas tudo isso são especulações.

O que vai agora acontecer na embaixada Brasileira? Está tudo a funcionar bem?

É preciso aguardar primeiro as definições das comunidades regionais. A CEDEAO, a União Africana e ver que tipo de entendimento o próprio continente africano vai dar a isso. Mas um segundo golpe em menos de 9 meses é sempre preocupante.

Preocupante também para as populações estrangeiras. Estão a fugir ou ainda temos uma certa estabilidade?

Não. Há estabilidade. Eu não sinto um sentimento antifrancês contra as pessoas. Eu acho que os protestos mais são dirigidos contra uma presença militar francesa similar a Barkhane, no Mali, mas que aqui nunca ouve. Aqui existe uma cooperação militar com a França acontecendo, mas não tem tropas como havia no Mali.

A Senhora embaixadora não aconselha os brasileiros fugir do país?

Não, de jeito nenhum. As pessoas aqui são muitas estáveis muito amáveis . Nenhuma das outras embaixadas, que eu saiba, esteja se sentindo ameaçada. O que há é um conselho de várias embaixadas para que as pessoas não viagem para cá, a não ser que, em caso de necessidade, e isto por conta do terrorismo.  Porque no país, o terrorismo está avançando cada vez mais. Mas, por enquanto, a situação está sob controle, calma, o golpe de Estado não colocou em perigo a população civil. Estamos todos aguardando os desdobramentos.

Houve várias manifestações hostis à França e viramos bandeiras Russas nas ruas de Uagadugu. O que está a acontecer é que a influência francesa está a ser discutida no Burkina?

Não, eu tenho impressão que não é influência francesa. Eu acho que tudo isso é contra a presença militar. O Burkina é um dos poucos países da África ocidental após a Independência, em 1960, nunca concordou com presença de tropas ou inclusive com cooperação militar. É o país dos homens íntegros raiz. Eles são muito orgulhosos da autonomia. Eu entendo que é mais de quanto era uma perceção de suposta ingerência. Eu não percebo esse movimento nessa dimensão que às vezes parece forte para quem está fora do país. Não percebo, aqui, que haja essa agressividade, xenofobia, nem contra os franceses, nem com relação a nenhuma outra nacionalidade é um povo, repito, maravilhoso e não percebo nada disso.

Tudo voltou a normal agora em Uagadugu?

Sim, a situação é normal, pendente dos desdobramentos políticos. Porque o entendimento é esse. Esse novo movimento não quer tomar as rédeas políticas do país. Então vamos ver o que que vai acontecer nos próximos dias.

Era Ellen de Barros, embaixadora do Brasil em Uagadudu, no Burkina Faso.

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