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Angola

Angola assinala os 45 anos dos massacres do 27 de Maio de 1977

Assinalaram-se hoje os 45 anos dos chamados "massacres do 27 de Maio de 1977", um período de dois anos durante o qual milhares de pessoas foram raptadas, torturadas e eliminadas sob a acusação de serem "fraccionistas", ou seja pertencerem à ala do MPLA liderada pelo antigo ministro da administração interna Nito Alves que se opunha à linha política do Presidente da época, Agostinho Neto, e que supostamente teria fomentado uma tentativa de golpe de Estado.

Luanda, 14 de Julho de 2021.
Luanda, 14 de Julho de 2021. © Carina Branco/RFI
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Na altura dos acontecimentos, Nito Alves e seus seguidores tinham acabado de ser expulsos do MPLA no dia 21 de Maio de 1977 após entrarem em linha de colisão com o poder de Agostinho Neto. Dias depois, foi organizada uma manifestação de apoio a Nito Alves em Luanda, uma iniciativa que foi considerada como uma tentativa de golpe de Estado e que acabou por ser reprimida pela força.

Nos dois anos que se seguiram, milhares de pessoas foram presas de forma arbitrária, torturadas, condenadas sem julgamento e executadas, nomeadamente Nito Alves e outros responsáveis considerados na altura como "traidores".

Mais de quarenta anos volvidos sobre este período sombrio, no ano passado, o actual Presidente angolano, João Lourenço, pediu desculpas pelos crimes cometidos durante aquela época e encetou-se um trabalho de reabilitação e memória em torno das vítimas do que se chamou de "purga". O executivo mandou efectuar buscas dos restos mortais das vítimas e começou a entregar certidões de óbito aos familiares dos entes desaparecidos, numa iniciativa que se apresentou como sendo de reconciliação.

Um ano depois destes gestos do Estado e do governo de Angola, o general Silva Mateus, presidente da Fundação 27 de Maio, que reúne os sobreviventes e os familiares das vítimas da repressão, mostra-se confiante. "Sentimo-nos regozijados, honrados, porque afinal o executivo angolano e o Estado angolano reconheceram o erro e vêm-nos como elementos inseridos na sociedade e já não como os golpistas ou fraccionistas, epítetos de que éramos alcunhados", diz o responsável.

Questionado sobre a fase em que está o processo de esclarecimento dos acontecimentos do 27 de Maio, Silva Mateus vinca que "algo pode ser feito e algo está a ser feito. Nós temos já localizadas as áreas onde se encontram algumas valas comuns. Já estamos a proceder à remoção das ossadas nalgumas valas e está-se a preparar a questão da entrega das ossadas e o possível enterro. De qualquer das maneiras houve avanços e as coisas estão a ser resolvidas de acordo com as propostas que foram apresentadas à comissão, a CIVICOP (Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos), da qual nós fazemos parte. Portanto, não há quaisquer queixas neste momento em relação a isso. Vamos aguardar os outros passos a dar. Falta a identificação completa dos comandantes -alguns já estão identificados- e depois agendar-se o dia para a entrega dos restos mortais aos familiares e também o enterro oficial dos comandantes e dos generais a título póstumo. Esta é uma questão que está a ser trabalhada pela Presidência da República, o Senhor Presidente João Lourenço, que também faz questão de honrar esses comandantes fazendo um velório em sua memória."

Relativamente a outra das reivindicações da Fundação 27 de Maio -o acesso aos arquivos da polícia secreta relativos àquele período- Silva Mateus refere que este pedido teve resposta positiva por parte do executivo, este responsável referindo por outro lado que o cepticismo manifestado por alguns no começo do processo está ser ultrapassado. "Essas dúvidas foram ultrapassadas com a dinâmica do próprio processo porque hoje, por exemplo, a fundação que eu represento já tem os arquivos da DISA (polícia secreta angolana) no que concerne aos acontecimentos do 27 de Maio. Portanto, o processo é célere e está em andamento. Os que duvidavam estão a ser ultrapassados", considera o presidente da Fundação 27 de Maio.

Até ao momento, não se sabe exactamente quantas pessoas morreram durante a repressão do 27 de Maio. Segundo a Amnistia Internacional, 30 mil pessoas poderão ter morrido. Segundo a Fundação 27 de Maio, o número de vítimas poderia estar acima das 60 mil.

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